O Cambista e sua Mulher (1514), de Quentin Matsys |
A cobrança de juro é uma prática muito antiga na história da humanidade, anterior à invenção da moeda, quando os valores eram representados por metais preciosos ou outros produtos. Na Suméria, por exemplo, cerca de 2.000 anos antes de Cristo, a taxa de juro podia variar de $20\%$ a $30\%$, dependendo da forma de pagamento: em metais preciosos ou em produtos. Mais tarde, entre os babilônios, a taxa variava de $5,5\%$ a $20\%$ para o pagamento em metais preciosos e de $20\%$ a $33,5\%$ para pagamentos em produtos. É bom frisar, porém, que as taxas de juros não eram expressas em porcentagens, como hoje.
Na Grécia não havia limitação para as taxas de juros, que oscilavam entre $12\%$ e $18\%$, sendo os juros pagos mensalmente. No tempo de Demóstenes (384 – 322 a.C.) uma taxa de $12\%$ era considerada baixa.
Na Roma antiga, inicialmente, não havia nenhuma limitação à taxa de juro cobrada. Mas a Lei das Doze Tábuas (c. 445 a.C.) limitou-a a $8\frac{1}{3} \%$ do capital, para cidadãos romanos. Somente no ano 100 a.C. essa taxa foi estendida aos estrangeiros. No período final do império romano foi adotada a prática de juros mensais. Inicialmente a taxa era de $1\%$, mas o imperador Justiniano (482 – 565 d.C.) fixou-a em $0,5\%$ ao mês, derivando daí a taxa de $6\%$ ao ano.
Na Idade Média, havia distinção entre empréstimo para produção – para o qual era admitida uma certa remuneração – e o empréstimo para o consumo – sobre o qual o juro era considerado, pela igreja, contrário ao interesse público. Devido a essa restrição, o Direito Romano estabeleceu uma regra interessante para a remuneração de empréstimos: o devedor não pagava juro se quitasse o empréstimo em dia, mas, se atrasasse, tinha de compensar o credor com base na diferença ou aquilo que está entre (em latim, “id quod interest”) a posição deste último com o que teria – e o que efetivamente tinha nessa data. É provável que, no século XIII, essa regra tenha sido disciplinada com a fixação de uma certa porcentagem acordada preliminarmente. É dessa expressão latina que derivam as palavras interes (espanhol), intérêt (francês) e interest (inglês), que significam juro.
Durante a Renascença, a cobrança de juro continuou oscilando entre a proibição e a necessidade de regulamentação legal. Na Alemanha, a oposição à cobrança de juros era grande. Na Inglaterra, em 1545, o Parlamento aprovou uma lei fixando em $10\%$ o limite máximo da taxa de juro. Os protestos foram tantos que a lei foi revogada, sendo, porém, reeditada em 1571. No entanto, foi na Renascença, com o desenvolvimento do comércio que o juro passou a ser visto como um prêmio pelo risco envolvido no uso que o tomador faria do empréstimo e como um direito.
Em algumas aritméticas especializadas do século XV, para indicar $10\%$, encontram-se, por exemplo, expressões como: $X p 100$.
1339 texto aritmétic em Rara Arithmetica pg. 437 |
O $p$ que aparece nessa expressão acima é a primeira letra de per (“por”). Encontram-se também as seguintes formas de per cento: per co e p co, autoexplicativas. No início do século XVII, essas formas transformaram-se em $per\ \div$ , mais tarde, o per foi abandonado, restando apenas $\div$.
1684 texto aritmétic em Rara Arithmetica pg. 441 |
Esse símbolo é o antepassado mais próximo do símbolo que usamos atualmente: $\%$.
Referências:
- Matemática e Realidade – 7º Ano – Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce e Antônio Machado.
- http://en.wikipedia.org/wiki/Percent_sign
- http://www.kingsacademy.com
Olá Kleber, agora quando eu ver alguém reclamando de algum juro eu vou dizer "fique feliz por não ter nascido na Suméria 2000 anos atrás!"
ResponderExcluirAbraço.
Pedro R.
É mesmo Pedro. Reclamamos de barriga cheia! Rsss
ResponderExcluirUm abraço!
Olá, Kleber!
ResponderExcluirParabéns, parceiro!!!! Para realizarmos as nossas ações aqui na Terra, duas coisas no mínimo são necessárias: Tempo e dinheiro!!! Dessas duas grandezas superimportantes e superinteressantes eu chamo a atenção para o dinheiro e que na realidade, o mesmo, traduz a quantidade de energia (normalmente, potencial) com a qual podemos transformar os nossos desejos em realidades, segundo, a nossa atuação em vários cenários que se apresentam no jogo da vida. Agora, para que possamos nos garantir com um poder econômico, mesmo razoável, é preciso que estejamos atentos aí, principalmente, com essa prática de lucro e perda, por causa desse elemento que é... o juro!!!! Achei excelente as informações aqui exposta por você aqui no post! JURO que não sabia de tantas informações cronologicamente citadas no artigo!!!
JURO que também, não pago mais o "mico" de não saber de qual categoria gramatical provém o essa palavra. Achava que era... verbo!!!!
JURO ainda que... jamais emprestarei dinheiro a alguém que me prometa pagar o que me deve e prometendo a aplicação da taxa mais alta que se pode estabelecer e que é... "JURO QUE NÃO PAGO"!!!! KKKKKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!
Um abraço!!!!!
Obrigado pela explicação! Usarei como referência em um post.
ResponderExcluirAbração!
Maravilha, meu amigo. Um abraço!
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