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22/11/2014

A Conjectura de Beal - Casos Particulares

Por: Sebastião Vieira do Nascimento (Sebá)  

É impressionante a quantidade de problemas na teoria dos números de fácil entendimento, mesmo para os não matemáticos, e de soluções extremamente complicadas, mesmo para os matemáticos. Isso quando elas existem. Não poderia deixar de citar dois dos mais conhecidos: o Último Teorema de Fermat e a Conjectura de Goldbach. O primeiro deles foi resolvido em 1994, pelos matemáticos Andrew Wiles e Richard Taylor, e o segundo possui apenas soluções parciais.

É justamente sobre um problema de fácil entendimento e ainda sem solução que vamos falar nos próximos parágrafos. Em geral, esse tipo de problema é chamado de conjectura ou de problema em aberto.


Andrew Beal, banqueiro e entusiasta da teoria dos números, está oferecendo o prêmio de 1 milhão de dólares para quem provar ou apresentar um contra-exemplo para um problema que generaliza o Último Teorema de Fermat. Segundo as próprias palavras do banqueiro, em um comunicado à imprensa da American Mathmatical Society, o objetivo do prêmio milionário é "inspirar as mentes jovens a refletir sobre a questão e torná-las mais interessadas no estudo da matemática".

O problema foi proposto pelo próprio Beal em 1993, mas só ficou bem conhecido mesmo pela comunidade matemática em 1997 após R. D. Mauldin publicar o artigo A Generalization of Fermat’s Last Theorem: The Beal Conjecture and Prize Problem no periódico Notices of the American Mathematical Society. Daí o problema de Beal ficou conhecido como Conjectura de Beal. Afinal, o que diz a conjectura?

Conjectura de Beal:

Se ax+by=cz, onde a, b, c, x, y e z são inteiros positivos e x,y,z3, então a, b e c têm um fator primo comum - o que significa que a, b e c são divisíveis por um mesmo número primo.

Uma outra forma equivalente de enunciar a Conjectura de Beal seria:

A equação ax+by=cz não tem solução para inteiros positivos com x,y,z3 e o mdc(a,b,c)=1.

Esse problema tem despertado a curiosidade de matemáticos nos últimos 17 anos, inclusive do próprio Beal, que, como dito acima, é um apaixonado pela matemática.

Falaremos agora um pouco mais do problema em si. Primeiro, note que a igualdade 33+63=35 não é um contra exemplo para a conjectura, visto que os números a=3, b=6 e c=3 tem um fator primo comum, que é o primo 3.

"[...] em 1995, Darmon e Granville mostraram que os inteiros positivos x, y e z são tais que:
1x+1y+1z<1
então existe somente uma quantidade finita de tripla (a,b,c) de inteiros primos entre si que satisfazendo a equação ax+by=cz. Ora, dado que cada um dos inteiros x, y e z são maiores do que 2, então:
1x+1y+1z<1
a menos que x=y=z=3. Mas Euler, e possivelmente Fermat, sabia(m) que não há soluções neste caso. Assim, para cada tripla x, y e z de inteiros, todos maiores do que 2, só pode haver apenas uma quantidade finita de soluções para a equação diofantina  ax+by=cz. –  R. D. Mauldin. A Generalization of Fermat’s Last Theorem: The Beal Conjecture and Prize Problem. Notices of the American Mathematical Society. 44, 14361437, 1997."

Um contra exemplo à conjectura de Beal, seria encontrar uma solução em inteiros da equação ax+by=cz com todos os expoentes maiores que dois, sem existir um fator primo comum à a, b e c. Por exemplo, a equação 25+72=34 não é um contra exemplo, mesmo sendo mdc(2,7,3)=1, haja vista que os expoentes de a, b e c não são todos maiores que 2.

A equação 272+183=812 também não é um contra exemplo, haja vista que o mdc(27,18,81)=3>1, além de os expoentes de a, b e c não são todos maiores que 2.

A seguir vamos mostrar, por meio do teorema de Sebá, os dois casos particulares para os quais a conjectura de Beal é verdadeira.

Teorema de Sebá:

A equação an+bn=cm tem solução em inteiros positivos para n e m primos entre si.

Demonstração:

Seja an+bn=cm, com a, b, c, n e m inteiros positivos. Multiplicando ambos os membros de an+bn=cm por (an+bn)m, obtém-se:
(an+bn)(an+bn)m=(an+bn)mcm
Como cm=an+bn, logo, substituindo o valor de cm na relação (1), obtém-se:
(an+bn)(an+bn)m=(an+bn)m+1
ou
an(an+bn)m+bn(an+bn)m=(an+bn)m+1
Na relação (2), an+bn é o fator primo comum a a, b e c. Se escolhermos valores para a e b tal que ab ou ab, e substituirmos na (2), obtém-se infinitas soluções em inteiros positivos com fator primo comum a a, b e c.

Façamos os mesmo para a Conjectura de Beal: multiplicando ambos os membros da equação de Beal por (ax+by)m, obtém-se:
(ax+by)m(ax+by)=cz(ax+by)m
Como cz=ax+by, logo, substituindo em (3), vem que:
(ax+by)m(ax+by)=(ax+by)m(ax+by)
ou
(ax+by)m(ax+by)m=(ax+by)m+1
Na (4), ax+by é o fator primo comum à a, b e c, haja vista que ax+by divide (ax+by)m.

Segundo Euler, "se temos um problema e se não for possível resolvê-lo imediatamente, é prudente estimar sua dificuldade analisando alguns casos particulares". É o que veremos a seguir.

Dois casos particulares para a veracidade da Conjectura de Beal

Caso 1: Se x=y e mdc(x,y,z)=1

Exemplos:

  a3+b3=c4,5,7,8,10,11,

  a4+b4=c3,5,7,9,11,13,

  a5+b5=c2,3,4,6,7,8,


Caso 2: se xy e mdc(x,y,z)=1

Exemplos:

a3+b4=c5,7,11,13,17,19, ou a12+b12=c5,7,11,13,17,19, ou (a4)3+(b3)4=c5,7,1,13,17,19,

a3+b5=c4,7,8,10,11,13, ou a15+b15=c4,7,8,10,11,13, ou  (a5)3+(b3)5=c4,7,8,10,11,13,

a3+b6=c5,7,8,10,11,12, ou a18+b18=c5,7,8,10,11,12, ou (a6)3+(b3)6=c5,7,8,10,11,13,

Método de resolução da Equação de Beal para os dois casos

Caso 1: a3+b3=c4

Como o expoente de a e b é 3, logo, substituindo na (4) x e y por 3, obtém-se:
a3(a3+b3)m+b3(a3+b3)m=(a3+b3)m+1
Como na equação, a3+b3=c4, o membro da esquerda tem expoente 3 e o da direita,  expoente 4, logo, temos que encontrar dois números m e m+1 que seja possível decompor m em potência de 3 e m+1 em potência de 4. Isso só será possível se m e m+1 forem, respectivamente, múltiplo de 3 e 4. Logo, m=12k9 e m+1=12k8.

Substituindo os valores de m e m+1 na (5), vem:
a3(a3+b3)12k9+b3(a3+b3)12k9=(a3+b3)12k8
Seja k=a=b=1. Substituindo os valores de k, a e b na (6), vem que:
13(13+13)3+13(13+13)3=(13+13)423+23=248+8=16
Solução: a=b=c=2 (fator primo comum: 2).

Se escolhermos, por exemplo, k=a=1 e b=2, e substituirmos na (6), obteremos:
13(13+23)3+23(13+23)3=(13+23)493+23(93)=9493+183=6561
Solução: a=c=9 e b=18 (fator primo comum: 3).

Conclusão: Qualquer que seja o valor de k0, a, b e c terão sempre um fator primo comum à a, b e c.

Caso 2: a3+b4=c5

Note que o mdc(3,4,5)=1, só que o teorema de Sebá exige que os expoentes de a e b sejam iguais. A fim de que os expoentes de a e b sejam iguais, basta que os expoentes de a e b sejam iguais a 12, ou seja, 3×4.

Encontrar solução em inteiros para a equação a3+b4=c5, é o mesmo que encontrar solução em inteiros para a equação a12+b12=c5, haja vista que podemos escrever a12+b12=c5 como: (a4)3+(b3)4=c5. Como o expoente de a e b é 12, logo, substituindo na (4) os valores de x, y e z por 12, obtém-se:
a12(a12+b12)m+b12(a12+b12)m=(a12+b12)m+1
Como na equação a12+b12=c5, o membro da esquerda tem expoente 12 e o da direita tem expoente 5, logo, temos que encontrar dois números m e m+1 que seja possível decompor m em potência de 12 e m+1 em potência de 5. Isso só será possível se m e m+1 forem respectivamente múltiplos de 12 e 5. Logo, m=60k36 e m+1=60k35. Substituindo os valores de m e m+1 na relaçao (7), vem que:
a12(a12+b12)60k36+b12(a12+b12)60k36=(a12+b12)60k35
Seja k=a=b=1. Substituindo os valores de k, a e b na relação (8), vem que:
224+224=225(28)3+(26)4=(26)42563+644=325
Solução: a=256, b=64 e c=32 (fator primo comum: 2).

Se escolhermos, por exemplo, k=a=1 e b=2, e substituirmos na (8), obteremos:
(40978)3+(2(40976))4=(40975)5
Solução: a=40978, b=2(4097)6 e c=40975 (fator primo comum: 241).

Outros dois casos particulares para os quais a Conjectura de Beal é verdadeira

Caso 1:

Se A=B=C=2, x=y=2n>2 e z=2n+12, então a equação de Beal tem solução.

Demonstração:

22n+22n=22n+122n(1+1)=22n+12=22n+122n2=22n+1+(2n)2=2

Exemplos:

24+24=25 (O número 2 é um fator primo comum a A, B e C)

26+26=27 (O número 2 é um fator primo comum a A, B e C)

28+28=29 (O número 2 é um fator primo comum a A, B e C)

E assim por diante.

Caso 2:

Se A=B=C=2, x=y=2n+1>2 e z=2n+2>2, então a equação de Beal tem solução.

Demonstração:

22n+1+22n+1=22n+222n+1(1+1)=22n+22=22n+22(2n+1)2=22n+22n12=2

Exemplos:


23+23=24 (O número 2 é um fator primo comum a A, B e C)

25+25=26 (O número 2 é um fator primo comum a A, B e C)

27+27=28 (O número 2 é um fator primo comum a A, B e C

E assim por diante.

Quatro casos particulares para os quais a equação de Beal não tem solução

Se x,y,z>2 e mdc(x,y,z)>1, então a equação de Beal não tem solução. Se não, vejamos:

Caso 1: x=y=2n+1 e z é múltiplo de 2n+1

Exemplos:

A3+B3=C6 ou A3+B3=(C2)3 (Equação de Fermat)

A5+B5=C10 ou A5+B5=(C2)5 (Equação de Fermat)

E assim por diante.

Caso 2: x=y=2n e z múltiplo de x e y

Exemplos:

A4+B4=C8 ou A4+B4=(C2)4 (Equação de Fermat)

A6+B6=C12 ou A6+B6=(C2)6 (Equação de Fermat)

E assim por diante.

Caso 3: x=2n+1, y=2x e z=3x

Exemplos:

A3+B6=C9 ou A3+(B2)3=(C3)3 (Equação de Fermat)

A5+b10=C15 ou A5+(B2)5=(C3)5 (Equação de Fermat)

E assim por diante.

Caso 4: x=2n, y=2x e z=3x

Exemplos:

A4+B8=C12 ou A4+(B2)4=(C3)4 (Equação de Fermat)

A6+B12=C18 ou A6+(B2)6=(C3)6 (Equação de Fermat)

E assim por diante.

Conclusão:

Segundo R. D. Mauldin, A Generalization of Fermat’s Last Theorem: The Beal Conjecture and Prize Problem. Notices of the American Mathematical Society. 44, 14361437, 1997 para cada tripla x, y e z de inteiros, todos maiores do que 2, só pode haver apenas uma quantidade finita de soluções para a equação diofantina  ax+by=cz; mas, por meio do teorema de Sebá, 1 e 2 casos, para cada tripla x, y e z de inteiros primos entre si, todos maiores do que 2, há infinitas soluções para a equação diofantina  ax+by=cz, para k inteiro, no intervalo: 1k<.

Este artigo foi cedido gentilmente por Sebastião Vieira do Nascimento (Sebá). Professor Titular (por concurso) aposentado da UFCG – PB.

Veja mais:


Método de Sebá para Resolução Alguns Casos Particulares Nas Equações Diofantinas Lineares
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Como Construir uma Espiral Pitagórica



COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO: Título: A Conjectura de Beal - Casos Particulares. Publicado por Kleber Kilhian em 22/11/2014. URL: . Leia os Termos de uso.


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5 comentários:

  1. boa tarde senhores, eu consegui efetuar a resolução da "Conjectura de Beal) , no entanto quando fui efetuar a revisão dos cálculos observei que em Pitágoras houve um ero de 0,01 % , que pode ser corrigida através de um fator no valor de 1,000106 ou seja a hipotenusa teve um valor de 362,03867, deveria ser de 362,00 gostaria de saber se existe uma tolerância, um desvio padrão. em todos os outros teste não houve problemas a equação ficou assim 4^4 + 4^4 = 2^9 o que nos da os seguintes valores 256 + 256 = 512. qual é o número significativo que posso trabalhar, quantas casas após a virgula. todo o desenvolvimento da equação esta em meu facebook, weber césar jocias a soma dos catetos ao quadrado foi de 131072 a hipotenusa foi de 362,0386, se usarmos um fator de correção de 1,000107 a equação com referencia ao teorema de Pitágoras também atendera o TEOREMA DE PITÁGORAS. OBRIGADO

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    1. 18^3+3^6=9^4

      a^3+b^6=c^4

      a=18
      b=3
      c=9

      a^3=5832
      b^6=729
      c^4=6561

      a^3+b^6=c^4

      5832+729=6561

      a equação proposta é verdadeira.

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  2. Olá eu sou Rafael Macena, consegui dar uma demonstração dessa conjectura usei seu site como uma referencia muito obrigado por servir de base para meu artigo, o link da publicação do artigo é:
    https://www.nucleodoconhecimento.com.br/matematica/conjectura-de-beal

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    Respostas
    1. Olá Rafael. É muito gratificante saber que este artigo lhe ajudou de alguma forma. Vou ler seu artigo. Obrigado por compartilhar. Abraços!

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  3. Digo o mesmo, nada melhor do que passar o conhecimento adiate para que muitas mentes desperte e busque ainda mais e mais!!!

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