Uma construção dos elementos de área que simplifica as operações com Integral única em coordenadas polares.
A demonstração da fórmula de cálculo da área de uma superfície esférica é algo que sempre instiga os estudantes e é comum encontrar, na rede, perguntas de internautas sobre tal demonstração. Relutando em olhar as demonstrações existentes, tentei algumas vezes chegar a alguma e não consegui. Recentemente, ao descascar uma laranja, retomei o desafio (de fazer sem olhar) construindo o elemento diferencial de área como na Figura 1; aí foi fácil, após a transformação para coordenadas polares, eliminando as retangulares. Porém, ao procurar pela demonstração, para comparar, fiquei surpreso: em LEITHOLD, L. O Cálculo com geometria analítica. 3 ed. Harbra, v.2, na página 59 (integração múltipla em coordenadas esféricas), onde esperava encontrar, não tem; o mesmo em James Stewart – Cálculo. v.2. Na rede, o que encontrei, além de muitas perguntas sobre assunto, foi a derivação do volume. Se já não tivesse feito, iria pensar: humm! A coisa deve ser feia e cabeluda! Além disso, alguns colegas relataram não ter visto, ainda, tal construção do elemento de área. Isso tudo, então, me motivou a apresentar o que segue.
Acredito que outras pessoas já devam ter desenvolvido a mesma demonstração, no entanto, parece difícil de ser encontrada publicada em algum meio. A construção do elemento diferencial de área pode ser considerada análoga à construção que se faz em coordenadas esféricas, ao eliminar a integração em teta (θ) (não sendo necessário integrar para obter a área de cada anel, uma vez que a largura de cada anel é constante) e integrar apenas em fi (φ). Ou seja, a demonstração apresentada a seguir corresponde a se trabalhar com o ângulo complementar a fi (φ).
Elemento diferencial de Área (dA)
Descascando uma laranja em anéis (e não helicoidais), fora do equador, as bordas de cada anel serão circunferências com raios distintos, uma maior que a outra:
[Figura 1: Laranja descascada em anéis]
A largura do anel pode ser descrita pela forma simplificada do comprimento de arco:
onde l é a largura do anel, r é o raio da circunferência e dθ é a variação infinitesimal do ângulo central.
[Figura 2: Esquema]
Mas, se estes anéis tiverem larguras infinitesimais, os raios se confundem e o perímetro do anel de largura infinitesimal é dado por:
Vejam que o perímetro C está em função do raio x. Fazendo uma transformação para coordenadas polares, destacamos na figura 3 o triângulo retângulo da figura 2:
[Figura 3: Triângulo retângulo]
Temos que:
Substituindo a equação ( II ) em ( I ), obtemos:
Vejam que agora o perímetro C está em função do ângulo central θ. Então, a área da superfície do anel de largura infinitesimal será dada pelo produto de seu perímetro C por sua altura l:
Com 0 < θ < π/2
Como o ângulo θ varia de 0 a π/2, obtemos anéis da esfera somente na parte superior ao eixo dos x, e, conseqüentemente, somente a metade da área de sua superfície. Para encontrar a área total, basta multiplicar por 2. Aplicamos, então, a integral definida:
Vejam que o cálculo poderia ter terminado na segunda linha!
A separação didática que os autores normalmente fazem entre os diversos sistemas de coordenadas, com os respectivos exercícios pertinentes a cada um sendo propostos de modo bem “separadinho” pode inibir que o leitor imagine o que foi apresentado acima. Ou seja, tratando, nos tópicos relacionados a coordenadas polares, quase que somente de figuras planas (de espirais a lemniscatas) e, no caso de coordenadas esféricas, com os três parâmetros – mais complicados e com integração em duas e três dimensões – alguns leitores podem ser levados a pensar que a construção do elemento de área só possa ser possível com os recursos de coordenadas esféricas ou retangulares em três dimensões.
Ao ver a resposta que um internauta recebeu (“...derivando o volume ... chagamos assim à fórmula da área. Cqd.”) cheguei a imaginar: a coisa deve ser feia, estão derivando o volume!
E então, como fica o volume? Bom, essa já tem pra todo lado.
O que mais me incomodava era o fato de conseguir fazer a demonstração da fórmula do volume (em “x” e “y”, empregando discos) enquanto a área, essa não saía!
É claro que sabendo a fórmula da área, para fazer o volume, basta partir da 3ª ou 4ª linhas abaixo. Mas é preciso saber como chegar nela!
Para o volume, veja que a integral interna já está pronta acima. Ou seja, poderíamos começar na 3ª linha. Creio que todos sejam capazes de imaginar o que representa o termo A(r)dr.
Vejam outra demonstração do Volume de esfera aqui.
Os referidos autores, nas obras citadas acima, destacam a importância de se optar por um sistema de coordenadas apropriado, numa integralização desse tipo. Experimente fazer isso em coordenadas retangulares e vai ver que a coisa, realmente, fica feia.
Na verdade, os autores consideram tão evidente e fácil a demonstração que nem, se quer, chegam a propor tal exercício em suas obras! Certamente, com medo de ofender o leitor. Os problemas lá propostos são, sim, muito mais complexos.
Esta demonstração foi elaborada por um amigo:
Engº. Agrônomo Leandro Salles Nogueira
Colégio Cenecista Walter Francklin – Três Rios, RJ
C.E. Dr. Valmir Peçanha – Três Rios, RJ
Ex-monitor de Cálculo I e II – Departamento de Matemática da UFV
lsnogueira82@hotmail.com
Veja mais:
Demonstração da Fórmula do Volume da Esfera
Demonstração da Área do Círculo
Uma Demonstração Para a Área do Pentágono Regular
muito bom!
ResponderExcluirMUITO BOA DEMONSTRAÇÃO, ISSO MOSTRA DE COMO NÓS MATEMÁTICOS PODEMOS INSERIR TAIS CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE VÁRIOS ASSUNTOS DA DISCIPLINA DE UMA FORMA CONTEXTUALIZADA E PRÁTICA, TORNANDO O APRENDIZADO SIGNIFICATIVO E DE CERTA FORMA, DESMISTIFICANDO A CIÊNCIA MATEMÁTICA, ONDE MUITOS CARREGAM CONSIGO, UMA CERTA FOBIA PELA MESMA...PARABÉNS E ABRAÇO A TODOS!!!
ResponderExcluirÉ verdade Flávia, a Matemática ainda causa temor nas pessoas. Mas é só olharem com outros olhos. Esta aproximação da matemática para nosso cotidiano ajuda muito esta desmitificação.
ResponderExcluirObrigado pela visita e por seu comentário. Volte sempre.
Abraços.
Muito boa demonstração! Sou aluno do primeiro ano, não entendo de integrais ainda, mas o resto deu pra entender bem..
ResponderExcluirOlá Victor, a integral nada mais é que a soma das partes infinitesimais. Veja um pouco sobre integrais aqui:
ResponderExcluirhttp://obaricentrodamente.blogspot.com/2010/02/o-calculo-integral.html
Obrigado e volte sempre!
sou aluno do segundo ano,demorei um pouco pra conseguir entender ,acho que por que eu não estou habituado com cordenadas polares!
ResponderExcluirmais agora eu já entendi tudo,obrigado pelo post!
Muito boa demonstração.
ResponderExcluirApenas para ficar perfeito, acho que faz-se necessária uma pequena correção na linha:
A(Ѳ) = 2 π r cos(Ѳ) . dѲ
para:
A(Ѳ) = 2 π r cos(Ѳ) . r.dѲ
Bem observado Jairo, já corrigi o erro. Creio que tenha sido na hora de digitar.
ResponderExcluirUm abraço!
só não entendi a passagem
ResponderExcluirl = r d(teta)
Olá amigo, veja que $l=r \theta$ é fórmula para encontrar o comprimento de arco, dado o ângulo central em radianos. A nomenclatura $d \theta$ é utilizada porque o ângulo $\theta$ tem uma variação infinitesimal, ou seja, muitíssimo pequena.
ResponderExcluirEspero que tenha esclarecido sua dúvida.
Abraços.
Fazer as pessoas entenderem que a Matemática é uma ferramenta maravilhosa, não é fácil missão, ao par disso tudo muitos se empenham em mostrar o raciocínio lógico de forma inibidora, quando a prática do mesmo produz um efeito estupendo em todo o desempenho das pessoas, é claro que uns tem mais aptidão, no entanto não precisa ser o Pelé para jogar uma peladinha no fim de semana.
ResponderExcluirAbraços.
Muito show
ResponderExcluirÓtima demonstração. Parabéns!!!
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