As ondas sonoras nos fluídos são ondas longitudinais mecânicas, ou seja, são ondas em que a direção da propagação coincide com a direção de vibração da partícula. Elas necessitam de um meio para se propagar, pois são produzidas por deformações em um meio elástico. Portanto, as ondas sonoras não se propagam no vácuo.
O ouvido humano é capaz de distinguir no som certas características que chamamos de qualidades, que são divididas em três propriedades: altura, intensidade e timbre.
1) Altura:
O termo altura foi criado pelos músicos numa época onde ainda não se sabia a natureza do som. Hoje sabemos que a altura está relacionada à frequência da onda sonora e podemos defini-la como a qualidade que permite ao ouvido diferenciar sons graves e sons agudos.
Um som é tanto mais grave quanto menor for sua frequência e tanto mais agudo quanto maior for sua frequência.
Em textos de música é comum o uso do termo intervalo, que na realidade é a comparação entre a frequência de diferentes notas musicais.
Podemos definir matematicamente intervalo entre dois sons de frequência $f_1$ e $f_2$, sendo $f_2>f_1$, pela relação:
\begin{equation}i=\frac{f_2}{f_1},f_2>f_1
\end{equation}
Para um intervalo $i=1$, ou seja, quando $f_2=f_1$, dizemos que os sons estão em uníssono, ou seja, estão em frequências iguais.
Quando $i=2$, ou seja, $f_2=2f_1$, o intervalo é chamado de oitava, porque entre os dois sons na escala natural composta por $7$ notas (dó (C), ré (D), mi (E), fá (F), sol (G), lá (A), si (B)), sucedem seis notas musicais, sendo que o primeiro som de frequência $f_1$ é a primeira nota da escala e o segundo som de frequência $f_2$ é a oitava nota.
O ouvido humano normal tem capacidade para perceber as ondas sonoras compreendidas entre $20Hz$ e $20kHz$. Frequências abaixo de $20Hz$ são denominadas infrassom e as superiores a $20kHz$ são as chamadas de ultrassom. Apesar dessas frequências não serem percebidas pelo ouvido humano, alguns animais conseguem captar os ultrassons ou infrassons.
2) Intensidade:
Uma forma simples de entender o conceito de intensidade é tomar uma fonte sonora como referencial. Vamos usar como exemplo o som produzido pelas ondas do mar. Percebemos que o som fica mais forte à medida em que caminhamos pela areia da praia em direção ao mar.
Dizemos que a intensidade de um som é a qualidade que permite ao ouvido diferenciar os sons fracos dos sons fortes.
As ondas transportam energia e quanto maior a energia por unidade de tempo que a onda transporta, maior é a intensidade do som.
A intensidade sonora $I$ é definida fisicamente como a potência sonora recebida por unidade de área de uma superfície perpendicular à direção de propagação, ou seja:
\begin{equation}I=\frac{P}{A}
\end{equation}
Mas a potência pode ser definida pela relação de energia por unidade d etempo:
\begin{equation}P=\frac{\Delta E}{\Delta t}
\end{equation}
Substituindo $(3)$ e, $(2)$, podemos expressar a intensidade sonora como:
\begin{equation}I=\frac{\frac{\Delta E}{\Delta t}}{A}=\frac{\Delta E}{A\cdot \Delta t}
\end{equation}
No $S.I.$ a unidade de medida de energia é o joule $(J)$, da área é o metro quadrado $(m^2)$ e do tempo é o segundo $(s)$, assim:
\begin{equation}I=\frac{J}{m^2 \cdot s}
\end{equation}
Mas como
\begin{equation}
1W=\frac{1J}{s}
\end{equation}
a intensidade sonora $I$ também pode ser expressada por:
\begin{equation}I=\frac{W}{m^2}
\end{equation}
Tendo como base a percepção humana, identificamos duas intensidades importantes: a mínima intensidade física que uma onda sonora deve ter para que seja audível é de aproximadamente $I_0=10^{-12}W/m^2$, chamada de limiar da audibilidade; já a máxima intensidade sonora suportável pelo ser humano sem experimentar sensação de dor é de $I=1W/m^2$ e é chamada de limiar da dor.
No entanto, a sensação auditiva não varia linearmente com a energia transportada com a onda sonora. Assim, em igualdade das demais condições, se dobrarmos a energia transportada pela onda, a sensação não será a de um som duas vezes mais forte. Experiências mostraram que o ouvido humano considera um som duas vezes mais forte que outro (de mesma frequência), quando sua intensidade física for dez vezes maior que a do outro. Por isso, para se medir a intensidade auditiva também denominada nível sonoro do som, utilizamos a escala logarítmica.
O valor $I_0$ é a menor intensidade que nosso ouvido consegue perceber. Na verdade, $I_0$ pode variar para cada pessoa, mas em média, temos $I_0=10^{-12}W/m^2$ sendo adotado como padrão; já $I$ é a intensidade do som que se quer medir. Define-se intensidade auditiva ou nível sonoro $\beta$ de um som o expoente a que se deve elevar o número $10$ para obter a relação $I/I_0$:
\begin{equation}10^{\beta}=\frac{I}{I_0}
\end{equation}
Pela definição de logaritmos, podemos escrever:
\begin{equation}\beta=\log{\frac{I}{I_0}}
\end{equation}
onde $\beta$ é a medida em bel, simbolizada por $B$, em homenagem a Alexander Graham Bell $(1847-1922)$, inventor do telefone e pioneiro em estudos sobre intensidade sonora.
Geralmente, na prática, medimos $\beta$ em uma unidade menor, o decibel $(dB)$:
\begin{equation*}1dB=\frac{1}{10}B
\end{equation*}
Veja o artigo sobre os logaritmos e a audição humana.
3) Timbre:
A palavra timbre foi criada antes de se conhecer a natureza do som. O timbre é a qualidade que permite ao ouvido diferenciar sons de mesma altura e intensidade emitidos por fontes diferentes. Uma mesma nota musical tocada por um violão e por um piano produz sensações diferentes. Isto é devido à forma da onda que é emitida pelo instrumento.
Referências:
- Física Volume Único - Sampaio & Calçada
- Física Volume Único - Nicolau, Toledo & Ronaldo
- Física V2 - Paraná
- Física V3 - Xavier & Benigno
- Os Fundamentos da Física V2 - Ramalho, Ivan, Nicolau & Toledo
Já trabalhei este conteúdo no Ensino Médio em 2011. Muito bom... Eu só ficava um pouco frustrado por não conseguir tocar instrumentos e exemplificar os sons...
ResponderExcluirOlá Charles,
ExcluirO tema é interessante mesmo, envolve logaritmos, frequência, amplitude, que é bem legal. Para quem é músico ou quem gosta de música, fica mais interessante. Saber que podemos distinguir instrumentos apenas por nossa percepção auditiva. Eu sou baixista há 20 anos, acho... tenho um violão também e tinha uma ideia de como as coisas funcionavam, mas fazendo este post pude entender melhor. A vida é assim mesmo, sempre estamos aprendendo algo novo.
Obrigado pelo comentário! Abraços.