No século XVII, pouco antes da invenção do Cálculo Diferencial e Integral, existiam muitos métodos para os problemas de quadratura (cálculo de áreas), cubatura e retificação de uma curva.
O problema de calcular o comprimento de arco de uma curva é em alguns casos extremamente difícil, pois pode nos levar a integrais elípticas. Com a invenção do Cálculo Diferencial e Integral, este procedimento nos leva a resolução de uma integral definida em que o integrando envolve uma raiz quadrada e a derivada da função dada.
Para curvas geradas por funções do primeiro grau, basta aplicarmos o Teorema pitagórico no intervalo desejado que encontramos o comprimento da curva rapidamente.
O segmento ℓ é a hipotenusa do triângulo retângulo de catetos Δx e Δy e seu comprimento é dado por:
ℓ=√Δx2+Δy2Para as demais funções, temos que usar o Cálculo para determinarmos o comprimento desejado de um arco.
Considere a função y=f(x), contínua no intervalo [a,b] e derivável em (a,b), cujo gráfico pode ser esboçado como:
Para determinarmos o comprimento do arco da curva entre os pontos A=(a,f(a)) e B=(b,f(b)), podemos subdividir a curva em segmentos infinitesimais de reta, que já sabemos calcular pela relação (1), onde:
x0=a<x1<x2<⋯<xk−1<xk<⋯<xn=bConforme podemos observar na figura abaixo:
Seja Pk o ponto (xk,yk) onde yk=f(xk). O comprimento total da poligonal P0P1P2⋯Pk−1Pk⋯Pn é a soma dos comprimentos das cordas que ligam cada ponto ao próximo.
Sejam Δxk=xk−xk−1 e Δyk=yk−yk−1 para k=1,2,3,⋯,n.
Assim, temos triângulos retângulos e o problema se resumiria em encontrarmos os comprimentos infinitesimais de suas hipotenusas de tamanho ℓk:
Pelo teorema pitagórico, o comprimento da k-ésima corda, denotada por ℓk, é igual a:
ℓk=√(Δxk)2+(Δyk)2 ℓk=√(Δxk)2+(Δyk)2(Δxk)2⋅(Δxk)2 ℓk=√1+(Δyk)2(Δxk)2⋅ΔxkObtendo:
ℓk=√1+(ΔykΔxk)2Δxk
ℓk=√1+(ΔykΔxk)2Δxk
Considerando f(x) contínua no intervalo [a,b] e derivável em (a,b), então f(x) é derivável no intervalo [xk−1,xk] e pelo teorema do valor médio, existe ξk∈(xk−1,xk), tal que:
ΔykΔxk=f′(ξk)Substituindo (3) em (2), temos que:
ℓk=√1+[f′(ξk)]2⋅ΔxkMas, ℓk é somente o comprimento de um segmento infinitesimal da curva. Para o comprimento total da poligonal L, fazemos:
L=n∑k=1ℓk L=n∑k=1√1+[f′(ξk)]2⋅ΔxkQuando tende ao infinito, o comprimento do subintervalo tende a zero. Assim, se L denota o comprimento do arco AB, então:
L=limmaxΔxk→0n∑k=1√1+[f′(ξk)]2⋅ΔxkObtendo:
L=∫ba√1+[f′(x)]2 dx
L=∫ba√1+[f′(x)]2 dx
Isso com a hipótese adicional que f′(x) seja contínua para que a integral dada na relação (5) exista.
Exemplo 1:
Seja a função f(x)=2x−1. Determinar o comprimento do arco da curva no intervalo [1,2].
Primeiramente calculamos a derivada da função:
f(x)=2x−1⟹f′(x)=2Em seguida, substituímos na fórmula (5) para o comprimento de arco:
L=∫21√1+(2)2 dx L=∫21√5 dx L=[√5x]21 L=√5 u.c.Graficamente temos:
Se utilizarmos o teorema pitagórico, obteríamos:
L2=(3−1)2+(2−1)2 L=√5 u.c.Que é exatamente o que encontramos utilizando o cálculo diferencial e integral.
Podemos aplicar este conceito para diversas curvas mais complexas, mas dependendo da função original, podemos obter uma integral com bastante dificuldade de resolução. Vejamos outro exemplo:
Exemplo 2:
Seja a função f(x)=x3/2. Determinar o comprimento da curva no intervalo [1,4].
A função f(x)=x3/2 tem como derivada f′(x)=32x1/2. Aplicamos a fórmula dada em (5):
L=∫41√1+(32x1/2)2 dx L=∫41√1+94x dxPara o integrando, fazemos a substituição u=94x+1. Assim, du=94dx e dx=49du.
Precisamos calcular os novos limites de integração para a variável u.
Para o limite inferior, substituímos x por 1:
u=94x+1=94⋅1+1=134Para o limite superior, substituímos x por 4:
u=94x+1=94⋅4+1=10Assim:
L=49∫1013/4√u du
A integral de √u é 2u3/23+C. Assim:
L=49[2u3/23]1013/4 L=49[2⋅103/13−2(134)3/23] L≈7,6337 u.c.Exemplo 3:
Seja a função f(x)=cosh(x). Determinar o comprimento do arco da curva no intervalo [−e,e].
A função f(x)=cosh(x) tem como derivada f′(x)=senh(x). Aplicando na relação (5):
L=∫e−e√1+senh2(x) dxPela identidade fundamental trigonométrica hiperbólica, temos que:
cosh2(x)−senh2(x)=1Substituindo (8) em (7), obtemos:
L=2∫e0√cosh2(x) dx L=2∫e0cosh(x) dx L=[2 senh(x)]e0 L=2 senh(e) L≈15,088 u.c.
Referências:
- Cálculo com Geometria Analítica V1 - Simmons - Ed. McGraw Hill
Veja mais:
Histórico de atualização:
- Atualização em 11/10/2021:
- Otimização de imagens
- Escrita em LATEX
- Atualização do URL para: https://www.obaricentrodamente.com/2021/10/como-calcular-o-comprimento-de-um-arco-de-curva.html
- URL antigo: https://www.obaricentrodamente.com/2011/10/como-calcular-o-comprimento-de-um.html
Muito bom o post. Com certeza é mais um material disponível na internet que será muito útil para os estudantes. Abraços!
ResponderExcluirExcelente explicacion amigo... Muchas gracias por eso.
ResponderExcluirOlá, Kleber!
ResponderExcluirVocê não trocaria o seu emprego atual, para ser professor? Não? Por que? Ah! Certo! Já entendi, concordo com a sua opinião e, só lamento que os estudantes brasileiros que deveriam ter tido aulas com você, devido a essas coisas que os nossos administradores políticos ( elites e/ou corruptos) criaram e que desestimulam esses profissionais do ramo de ensino!
Sorte, que agora aqueles estudantes que foram privados de receberem seus ensinamentos em sala de aula, te em através da internet, embora que de forma virtual, o prazer de aprenderem esses ensinamentos com o mestre Kleber, que com a sua didática e capacidade, tornam os conteúdos do cálculo considerados difíceis, uma prazerosa e estimulante absorção de conhecimentos!
Parabéns, pela bela, útil e tão caprichada postagem!
Um abraço!!!!!
#Paulo, agradeço sua ajuda neste artigo que deu um embasamento teórico mais formal.
ResponderExcluir#Gabriel, obrigado pelo comentário e pela força!
#Valdir, sempre exagerando nos comentários... Mas é verdade, não trocaria meu emprego atual pela docência. Mas é uam idéia que ainda não me abandonou. Espero conseguir um dia dar aulas num período (talvez noturno) e conciliar meu trabalho. Mas de qualquer modo, me dá prazer escrever posts como este e receber tão bons elogios.
Abraço a todos vocês, amigos!
Ola, seu que meu comentario esta totalemente fora de contexto, mas alguem saberia me dizer qual os assuntos mais atuais em matematica? Oque é que pesquisadores estudam atualmente? Desculpe a pergunta, mas é que ja procurei na internet e nao consegui achar nenhuma resposta...
ResponderExcluirRicardo tavares meus cumprimentos. Ao contrário do que algumas pessoas pensam que a matemática é exata e sempre é a mesma coisa não carece de atualizações, estão totalmente equivocadas, a matemática é lógica e analítica e se assemelha às outras ciências. Para buscar atualizações e saber nas novidades nada melhor que estar na academia através de especializações, mestrado ou doutorados ou sendo pesquisador constante na área, portanto, posso citar a você alguns exemplos de assuntos atuais que surgiram recentemente no ramo da matemática e que os alunos do ensino médio e fundamental não tem acesso: as geometrias não euclidianas como a geometria esférica e elíptica, a geometria hiperbólica com nenhuma aplicação nos livros do ensino médio, a geometria do taxista, a geometria dos fractais e os mais recentes as pesquisas sobre o que se conhece resumidamente por P e NP, ou seja, a matemática polinomial e as não polinomiais conhecida também como as transcendentes, muito usado na engenharia da computação, temos também a aprendizagem da álgebra e geometria através da análise de desafios buscando conjecturas e padrões já usado nas escolas de ensino médio e fundamental em alguns países da europa. enfim, a matemática também progride.
ExcluirOi, quero saber como seria o cálculo, por integral definida, do semi-perímetro da circunferência.
ResponderExcluirOlá Ítalo, veja neste artigo como calclar o comprimento da circunferência:
ResponderExcluirhttp://elementosdeteixeira.blogspot.com.br/2012/10/079-calculo-do-comprimento-da.html
Note que o cálculo é feito em apenas um quadrante e depois multiplicado por 4. Para a semi-circunferência, multiplique por 2.
Espero que te ajude.
Abraços!
Post muito interessante e útil, eu sempre me perguntava se a integral é a área sob uma curva, há algum método para calcular o "perímetro" de uma curva?
ResponderExcluirAcredito que para o perímetro da circunferência seja fácil, mas para a elipse, veja este post: http://fatosmatematicos.blogspot.com.br/2010/09/uma-formula-para-calcular-o-comprimento.html
ExcluirExtremamente útil e simples sua explicação. Sua matéria me ajudou muito em meus estudos. Muitíssimo obrigado.
ResponderExcluirKleber, no segundo exemplo esqueceste de alterar o intervalo da integral na substituição:
ResponderExcluirL=∫41√1+9x4 dx=∫1013449√u du
Além disso, esqueceste de por o 1 ao cubo quando substituiu "u" por "1 + 9x/4". O resultado é na verdade 7,6337...
Tem toda razão. Em breve farei a correção. Obrigado por avisar.
ExcluirAbraços.
Seu blog, pra mim é o melhor da internet e, certamente, para todo amante da matemática. Parabéns pelo trabalho, cara, sensacional.
ResponderExcluirObrigado Pet K. São não fosse o incentivo de vocês leitores, acho que não conseguiria manter o blog ativo.
ExcluirUm forte abraço.
Bom dia. Kleber, em alguns exemplos você colocou na resposta: u.a (unidade de área) e em outros não colocou nada. Não seria todos: u.c.? (unidade de comprimento)
ExcluirOlá Sandro. Realmente um vacilo. Agradeço por avisar-me. Farei a correção em breve.
ExcluirUm abraço.
GOSTEI,BELA EXPLICAÇÃO.
ResponderExcluirParabéns pela precisão do texto, me ajudou bastante.
ResponderExcluir