31/05/2022

A baixa produção científica na Idade Média

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A idade média surge com o fim da idade antiga, com a queda do Império Romano em 476 d.C. O fim da idade média se deu com a tomada de Constantinopla, em 1453. Com o fim do Império Romano e sua pilhagem por pequenos reinos bárbaros, o Ocidente perdeu sua tradição científica.


Os tempos eram confusos e havia-se perdido o acesso aos tratados científicos da antiguidade clássica (em grego), ficando apenas as compilações resumidas e até deturpadas que os romanos tinham traduzido para o latim.


Os interesses passaram a se voltar para o cristianismo, que ascendia como religião dominante na região e induzia a um retrocesso no modo leigo de pensar o mundo. Até mesmo a esfericidade da Terra passou a ser questionada (e muito tempo depois, a história e repete em pleno século XXI, dá para acreditar?), e os pensadores cristãos repudiavam a busca do conhecimento – astronômico ou não.


Escreveu Santo Agostinho (354-430), um dos primeiros grandes representantes do pensamento religioso da Idade Média (muito embora ele a preceda em cerca de meio século), em suas “Confissões”:

 

Outra forma de complexidade ainda mais perigosa (que a da carne [...]) é a vã curiosidade que se esconde sob o nome de conhecimento e ciência. [...] Foi esta doença da curiosidade [...] que nos induziu a perscrutar os misteriosos segredos da natureza exterior a nós, segredos que não adianta conhecer e onde os homens não buscam nada além desse próprio conhecimento. [...] Não me interessa conhecer o curso dos astros. (apud SIMAAN e FONTAINE, 2003, p.p.70-79).

 

Sob essa argumentação, invalidava-se todo o esforço feito até Ptolomeu para dar explicação aos fenômenos celestes. Com esse combate sistemático às indagações conduzidas até então pela Grécia clássica, muito do que se sabia no mundo ocidental sobre os antigos pensadores seria perdido. Por sorte, no Oriente, um grande império se formava: inspirados pela religião islâmica, os árabes conquistariam vastos territórios, da Ásia ao norte da África e até à Península Ibérica (Espanha).

 

No Império Árabe, a liberdade de pensamento era maior e a astronomia seguiu evoluindo. Observações mais precisas foram realizadas, instrumentos aperfeiçoados, e o astrônomo e matemático Ibn El Hhaytam (965-1039), cujo nome ocidentalizado era Alhazen, fez grandes desenvolvimentos no estudo da óptica, dando explicações mais convincentes sobre a natureza da luz. Entretanto, ninguém ousou questionar o modelo geocêntrico de Ptolomeu, com a Terra imóvel no centro do Universo.

 

A partir dos séculos XI e XII, com as Cruzadas, incursões militares cristãs para ocupar Jerusalém e outras partes da Palestina, e a Reconquista, processo da retomada da Espanha pelos europeus, o conhecimento armazenado no mundo árabe voltou a ter contato com o Ocidente.

 

A Igreja reduz seu combate ao saber científico e recupera grandes nomes, como Aristóteles, que são reincorporados ao modo de pensar ocidental. O resgate se deve a personagens importantes na filosofia da Idade Média, como Santo Tomás de Aquino (1227-1274). Retoma-se com mais afinco o estudo dos céus, e não é por coincidência que esse período também propicia o desenvolvimento das chamadas “Grandes Navegações”.

 

O céu, o único ponto de referência

Numa travessia transoceânica, o único ponto de referência possível é o céu, por meio das estrelas, e todas as embarcações necessariamente tinham um astrônomo a bordo. Embora não houvesse meio preciso, na época, de determinar a longitude (ou seja, a posição horizontal em um mapa), os astros serviam como excelente referência para a indicação da latitude (a posição vertical), resolvendo metade do serviço em termos de determinação da posição.

 

Os conhecimentos astronômicos, aliás, foram essenciais não só para a expansão europeia sobre o globo mas para todos os povos que praticaram a navegação com alguma competência. Os chineses, por exemplo, que conceberam frotas avançadíssimas de navios, antes dos europeus, tinham astronomia similarmente desenvolvida. Mas para o Ocidente, esse interesse só se reacendeu no fim da Idade Média.

 

Referências:

  • Coleção explorando o ensino, fronteira espacial parte 1 - Astronomia - V11
  • https://infoenem.com.br/compreendendo-a-divisao-dos-periodos-historicos/
  • https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_medieval

 

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2 comentários:

  1. Infelizmente a história do Cristianismo tem um lado obscuro e muito triste sob diversos pontos políticos, econômicos, sociais e religiosos, após a era apostólica da igreja primitiva (os 4 primeiros séculos), passando pela conversão de Constantino ao Cristianismo, até os dias atuais.

    Tudo que o homem põe as mãos e quer controlar com a sua ganância maléfica, traz consequências que perduram até hoje. Basta ver o tanto de igrejas falsas, pastores falsos, crentes falsos. Ontem estava assistindo um doc chamado Hillsong: A Megachurch Exposed, que mostra muita coisa que o verdadeiro Evangelho de Cristo não ensina. É de cair o queixo.

    Negar a ciência (coitado de Galileu que só ganhou o "perdão" da igreja católica em 1992, assumindo estar errada), impor indulgências aos cristãos (corrupção pura e simples) para ser salvo são apenas alguns exemplos de práticas que era comum. E continua sendo comum hoje.

    Mesmo depois de várias reformas, não é de se admirar que hoje em dia há pessoas que acreditam que a Terra não é esférica. Tem coisas mais simples que as pessoas não acreditam como o poder de um computador aliado à internet. Essas aberrações são frutos de pensamentos de uma sociedade sem instrução da infância à adolescência em casa e sem educação formal adequada. Se eu perguntar para meu pai se ele acredita que o homem pisou na lua no final da década de 60, com certeza ele não acreditará (nasceu em 58), pois isso envolve estudos do passado e de hoje. Mas em vista do mundo moderno que ele vive hoje, aceita que a Terra é esférica. É curioso, pois ele não tem estudo e depende de uma autoridade no assunto para acreditar ou não.

    Sobre a citação de Agostinho não cheguei a ler ainda. Estou no capítulo VIII do livro III. E até então vejo uma mente humilhada diante de Deus, expondo e refletindo seus pensamentos mais profundos desde sua infância, passando por sua adolescência e o resto ainda não li kkk

    Gostei de ler o artigo. Peço desculpas, por ser um comentarista medíocre sobre temas assim. Com a graça de Deus, vou melhorando.

    Abraço meu amigo!

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    Respostas
    1. Olá meu amigo. Desculpe a demora em responder, esses últimos dias foram complicados para mim.

      Colocar os interesses pessoais, ou de certos grupos, acima do coletivo, sempre aconteceu. Com o tempo, só vão mudando os protagonistas. O problema é o atraso no desenvolvimento de uma sociedade para se tornar melhor e mais sustentável. Mas é o modus operandi,

      Um abraço!

      Excluir

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